Elaine Reis /60 anos / Artesã, Canoísta…
Porque começou a praticar esportes depois de tanto tempo?
Sempre fui uma pessoa bastante ativa e um pouco ansiosa. Já havia algum tempo que eu iniciava algumas mudanças de hábito, como fazer artesanato e cuidar da minha saúde. Eu também já tinha um alerta da médica para que eu me movimentasse mais, mas eu eu não gostava da “lista” de exercícios recomendados para a minha idade, como alongamento, yoga ou pilates. Eu queria me mexer mais, sair da rotina e não ficar “trancada” em um estúdio ou academia. Comecei a canoagem em set de 2018, aos 57anos e daí pra frente não parei mais, sempre buscando sair da rotina. Além da canoagem, também pratico ciclismo e beach tennis.
Como começou?
Moro perto do Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, local onde o pessoal pratica canoagem e toda vez que via os treinos eu sentia vontade de tentar. Em um dos domingos em que estava caminhando neste parque, eu vi um campeonato, então fui até o responsável e perguntei sobre a modalidade, o que precisava para começar a praticar e quais os dias dos treinos.
Quando decidi realmente começar ninguém achou que eu iria continuar, nem meu esposo, nem mesmo minhas filhas. Na verdade eu ainda não tinha encontrado algo que me atraísse. Mas no próximo dia de treino, lá estava eu! E para minha grande surpresa, em novembro daquele ano, veio a oportunidade de participar do meu primeiro campeonato, o Pantanal Extremo na cidade de Corumbá. Eu tinha menos de um mês de treino eu já fui para o rio. Largamos na categoria iniciante, meu esposo também estava junto e todos os 6 iniciantes caíram no rio, (risos). Me lembro que os bombeiros entraram com jet-ski para nos resgatar (risadas). Mas assim que me deixaram na prainha eu perguntei se eu poderia retornar para finalizar a prova. Um dos organizadores me disse que se eu quisesse, se estivesse me sentido bem para continuar, não teria problema nenhuma então tirei a água do caiaque e recomecei a prova. Para minha grande surpresa finalizei a prova em 3° lugar da categoria! Foi ali que entendi que a canoagem seria parte para minha vida. No ano seguinte, 2019 participei em mais três atividades relacionada a canoagem entre campeonatos e eios recreativos com treino. Conheci várias cidades como Bodoquena e outras regiões do Pantanal. Também participei da prova Santa Delfina em Aquidauana, uma das maiores da região.
Com a Pandemia de Covid-19 acabei ficando dois anos parada, mas e este ano retomei com tudo. Porto Murtinho foi minha segunda competição de 2023. Gostei muito da cidade, achei tudo muito lindo, espero poder voltar outras vezes.
Quais as dificuldades?
Pra mim a maior dificuldade é tirar a agua do barco!!! (risadas). O caiaque fica pesado, é bem desafiador, e não é só pela idade não, é difícil pra todo mundo. Claro que o equilíbrio, as remadas, a postura no barco, tudo isso tem sua dificuldade no começo, mas é uma questão de prática, com o tempo vamos pegando o jeito. Uma coisa que eu sinto falta é de mulheres de 50+ (anos) não só no esporte, mas também nas competições. Eu acho que isso enfraquece a
categoria, afinal acabamos por competir com atletas muito mais novos, aí não vale né? Claro que não vejo a competição como obrigação, é uma escolha, mas acredito que faça parte do esporte e de sua evolução como atleta. Sempre que me preparo para competir converso com treinador e ele me treina especificamente para aquela competição. É tudo preparado baseado no nível que estamos, e isso nos traz segurança. E até por isso acredito que as competições são amigáveis e trazem um nível de desafio, seria interessante competir em uma categoria com mulheres da minha idade, na verdade é bem comum ver homens mais velhos nestas categorias, mas nós mulheres somos mais escassas. Deixo aqui o convite…
Quais benefícios?
Hoje com 60 anos,
Pra mim canoagem não é apenas um esporte, ela mudou muitos aspectos da minha vida. O contato com a natureza, as práticas constantes melhoraram minha resistência física, e minha disposição, melhorou inclusive a minha postura. Eu vinha tendo alguns problemas com colesterol mais alto, algumas dores no corpo por conta da postura e dos movimentos repetitivos que faço no trabalho com artesanato e eu não queria que isso se agravasse e se tornasse uma limitação no futuro. Além da melhora física, senti grande desenvolvimento na parte psicológicas e mesmo espiritual. Depois que me juntei à equipe consegui desacelerar e relaxar, viajar, fazer novos amigos (a maioria mais novos), mas somos muito unidos. E não importa a idade ou o nível, e isso carregamos para a vida, aprendemos a ter mais empatia, nos preocupamos com o bem estar uns dos outros.
Canoagem, pra mim, é reparadora e curativa, para o corpo e para alma. Enfrentar o rio, as marolas, os camalotes é como fazer a caminhada na vida. E assim como as dificuldades que enfrentamos na vida, também podemos assimilar com as remadas e os caminhos trilhados com os caiaques nos rios.
E qualquer faixa etária, todos somos capazes de fazer canoagem, independente de idade ou aptidão física, é de 8 a 80. Temos aqui no estado vários exemplos disso, atletas muito bons, cada um em sua caminhada. Nesse sentido posso dizer que a canoagem deu outro sentido pra minha vida, é maravilhoso quando vemos que conseguimos ar por todos os obstáculos, nos tornar mais fortes, mais felizes e mais saudáveis. E muito mais guerreiras! Gratidão a todos que nos receberam com tanto carinho em Porto Murtinho, Voltarei com certeza na próxima competição.
Hildebrando Procópio
Jornalista DRT 1922/MS.